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CONHEÇA A COMUNIDADE DO MONTE SERRAT

 

A comunidade Monte Serrat está localizada na região central de Florianópolis, com uma população estimada em oito mil pessoas. Esta é uma das 16 comunidades que integram o Maciço do Morro da Cruz, o qual totaliza em torno de 37 mil habitantes e é considerado uma das regiões de maior vulnerabilidade social da capital catarinense. A comunidade é também conhecida como Morro da Caixa e como Morro da Caixa d´Água pelo seu passado histórico. No topo do morro, em maio de 1910, foi inaugurado o primeiro reservatório de água da cidade, que continua em operação até hoje, abastecendo parte dos bairros Centro, Saco dos Limões e Agronômica. 

O “terreno da caixa d’água” está localizado entre as ruas General Nestor Passos e General Vieira da Rosa – as duas principais vias da comunidade. Com 7.023 metros quadrados, ele foi herdado pela CASAN (Companhia Catarinense de Águas e Saneamento) e cedido para a Prefeitura de Florianópolis em 31 de outubro de 2013 para “uso gratuito como área de lazer e convivência”. Trata-se de uma área tombada pelo Patrimônio Histórico. Entre os anos de 2017 e 2019, o terreno foi transformado em uma qualificada praça de uso público, a Praça Monte Serrat, como explicaremos a seguir. Esta é uma das comunidades mais antigas e tradicionais de Florianópolis. Sua ocupação inicial está ligada ao período do fim da escravidão, quando a população negra escravizada buscava a região como refúgio. E, também, pela existência de córregos, bicas e fontes de água, o que permitia às mulheres trabalharem como lavadeiras para as famílias do centro da cidade. A segunda fase da ocupação da localidade aconteceu a partir da década de 1920, ligada ao desenvolvimento urbano da cidade e a migração da população pobre para os morros. A terceira fase ocorreu durante as décadas de 1950 e 1960, com migração de população negra empobrecida dos municípios vizinhos de Biguaçu e de Antônio Carlos que buscava trabalho na área da construção civil em Florianópolis – setor em franca expansão à época. Ainda hoje a comunidade do Monte Serrat tem forte influência quilombola, especialmente na região do Pastinho, como é conhecida a área localizada próximo à cumeeira do morro. 

ReLIGIÃO E CULTURA

A denominação da comunidade faz referência à igreja existente no local, a Igreja de Nossa Senhora do Montserrat, padroeira do lugar. A irmandade foi fundada em 1927, a partir da chegada de uma imagem de Nossa Senhora do Monte Serrat à cidade, levada em procissão até a capela, recém-construída. O fato ocorreu no dia 8 de setembro daquele ano e, por isso, a data é festejada até os dias atuais. A edificação atual, erguida em 1980, configura-se como importante centro religioso da comunidade.  Nas imediações da igreja, está a casa do Padre Vilson Groh, presidente do Instituto Vilson Groh (IVG), empreendedor social e importante liderança local, morador da comunidade desde 1983. Foi dele a iniciativa de transformar o “terreno da caixa d´água” em uma qualificada praça de uso público para a comunidade – a Praça Monte Serrat – inaugurada em agosto de 2019.A comunidade é também berço da Sociedade Recreativa Cultural e Samba Embaixada Copa Lord, fundada em uma tarde de verão de 1955, a segunda Escola de Samba mais antiga de Florianópolis. A iniciativa de fundação de uma nova escola de samba na cidade foi de Abelardo Henrique Blumenberg, o "Avez-Vous" (aportuguesado para Avevú), Juventino João Machado - o Nego Quirido, Valdomiro José da Silva - o Lô, e Jorge Costa - o Jorginho. Logo após uma partida de futebol, naquela tarde, eles resolveram sentar para descansar num muro em frente ao bar do Segundo, reduto de sambistas e boêmios na rua Major Costa, subida do “Morro da Caixa”. Faltavam 40 dias para o Carnaval e a Protegidos da Princesa, única escola que existia na época, estava fora dos desfiles. Os blocos que saiam às ruas não estavam agradando os foliões. Então, Avevú disse: "Com este carnaval tão decadente, sem tempero, sem fato novo, acho que está na hora de fazer uma nova escola de samba". Foi ele que sugeriu o nome, associando a palavra Embaixada, em referência à união de negros e brancos que vivenciavam o mundo do samba, e a gíria carioca “Copa Lord”, que significava "jogada alta", em alusão à “grande jogada” do carnaval de Florianópolis.

CIDADANIA

Em maio de 1978, foi fundado o Conselho Comunitário Monte Serrat, organização comprometida em representar e lutar por melhorias para toda a comunidade do Monte Serrat. Os moradores sempre tiveram papel de protagonismo nas conquistas obtidas pela comunidade, tendo organizado mutirões para a construção de casas e de melhorias urbanas, como a pavimentação das vias. 

Dentre eles, destacava-se João Ferreira de Souza, o Seu Teco, um dos moradores mais antigos do Monte Serrat, a quem é atribuída a conquista do calçamento e, também, da rede de esgoto e da circulação de linhas de ônibus na comunidade. Seu Teco foi um dos fundadores do Centro Cultural Escrava Anastácia (CCEA), em 1998, organização voltada ao resgate e ao fortalecimento de vínculos familiares, sociais e escolares para jovens de comunidades empobrecidas. A iniciativa de fundação do CCEA atendeu especialmente aos interesses das mulheres negras da comunidade do Monte Serrat, que desejavam melhores oportunidades de educação e trabalho para seus filhos e netos. Seu Teco faleceu em agosto de 2020, aos 85 anos, deixando um legado de defesa dos direitos dos cidadãos. 

PRAÇA MONTE SERRAT

O “terreno da caixa d´água” foi adotado pelo Instituto Vilson Groh (IVG) pelo programa municipal “Adote uma Praça”, viabilizado pela Lei de Adoção de Espaços Públicos. E, em 2017, o Movimento Traços Urbanos foi convidado para assumir a coordenação do projeto de arquitetura paisagística. No dia 1 de julho daquele ano, o Movimento Traços Urbanos participou da primeira edição do projeto Monte Serrat Cor, idealizado pela WOA Empreendimentos Imobiliários e pelo IVG, quando foi realizado um mutirão de pintura de imóveis de uso comum, como a Igreja, o Centro de Voluntariado, os muros do entorno do terreno, entre outros. A ação mobilizou cerca de 100 voluntários, incluindo moradores da comunidade, com o apoio de empresas e órgãos públicos. A partir de então, foram dois anos de pesquisas de campo, estudos, oficinas com as crianças e adolescentes para definição das prioridades e interesses deles para a praça e debates com as lideranças da comunidade. O projeto de arquitetura paisagística foi desenvolvido de forma voluntária pela arquiteta Juliana Castro a partir do pré-projeto elaborado por ela, pelo arquiteto Fabiano Marques, por um grupo da Faculdade de Arquitetura da Univali e por diversos outros profissionais voluntários em conjunto com as lideranças da comunidade em oficinas de trabalho e nas pesquisas de campo realizadas pelo Grupo Via – Estação Conhecimento, sob a curadoria do Movimento Traços Urbanos. Para a execução, padre Vilson conquistou o apoio da empresa WOA Empreendimentos Imobiliário, parceira do IVG. A empresa patrocinou as obras da Praça Monte Serrat e assumiu a manutenção dos equipamentos, mantendo compromisso com o local. A comunidade foi envolvida no plantio e na posterior manutenção da vegetação e, também, da limpeza do local. Assim, em agosto de 2019 foi inaugurada a Praça Monte Serrat, com um parque com playground, academia ao ar livre, uma bica carioca, pista para caminhada e espaço para realização de feirinhas, entre outras atividades. A proposta vai além da criação de um espaço de convívio para a população. A intenção é incentivar o turismo e mostrar as belezas do local. “O que falta na nossa sociedade são conexões, elos que façam as realidades opostas se integrarem e é essa a nossa proposta. Criar oportunidades na comunidade do Monte Serrat, criando espaços para o artesanato local, com as produções que nascem no morro e lincando com o ambiental com o horto florestal que temos aqui no maciço, além, de num futuro próximo, da criação de uma via gastronômica”, explica padre Vilson. Iniciado em 2017, o trabalho de capacitação das pessoas em gastronomia e artesanato culminou em 2019 com a realização da Feira Amigos do Monte Serrat, uma feira criativa que integra venda de produtos desenvolvidos pelos moradores da comunidade e também atrações culturais. O trabalho está sendo continuado em 2020, apesar das dificuldades impostas pelo período de pandemia. Assim que possível, uma nova edição da Feira será realizada.  

Fotos: Correa Fotos / Divulgação WOA Empreendimentos Imobiliários e Acervo Rede IVG

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